Não Fujas - Capítulo 10
- Camie Button
- Camie, não sei que me escondeste, mas se já não gostas de mim, tudo bem, eu compreendo, eu ainda te amo, mas se és mais feliz ao lado de outra pessoa eu aceitarei, eu só te quero ver feliz, porque tu és a minha felicidade…
Deposito a mão na minha barriga, que começara a crescer. Suportava um ser que ainda não nascera, mas que eu sabia que iria amar com todas as minhas forças e que iria proteger e defender com tantas pedras na mão quanto as que fossem precisas.
- Não é isso. Tom, eu… estou grávida.
Ouço um suspiro teu, aquele suspiro de quando queres manter a calma, te auto-controlar.
- Eu vou para aí, precisamos de falar.
- Não, Tom, por favor! Não venhas!
- Camie, precisamos mesmo de falar.
Já te tinha ouvido a pegar nas chaves do carro, agora estás a dirigir-te para a porta de entrada, sei-o apenas pelo som dos teus passos. Conheço-te, Tom.
Não sei há quanto tempo me desligaste a chamada depois de entrar no carro, continuo no mesmo sítio, parada, continuo a sentir a criança que está a crescer, o nosso filho. Saio do meu transe quando vejo o teu carro a aparecer no rectângulo da janela, a mesma janela de onde te vi partir.
Dirijo-me até à porta e tu entras apenas com um olhar, sem nenhuma palavra. Observo-te a sentares-te no sofá onde costumávamos passar os serões, despreocupados, sem imaginar que agora eu me sentaria afastada de ti.
- Repete o que me disseste ao telemóvel.
Falaste calmamente, mas serena não fazia parte dos adjectivos para caracterizar a expressão da tua cara neste momento.
- Eu estou grávida…
- Há quanto tempo?
- Quase três meses…
- Porque não me disseste logo? Eu vou ser pai, Camie, pai! Sabes o que é que isso significa? PAI!!
Estavas a perder a tua calma, mas eu não estava com forças para tentar qualquer investida contra ti.
- Eu tinha medo…
- Medo do quê, Camie? DO QUÊ?! Podes explicar-me??
- EU TINHA MEDO… que me deixasses, que fosses ter com outra rapariga durante estes meses, que não quisesses ter um filho, eu quero ter um filho, Tom, eu quero este filho teu!
- Camie, era por isso que discutias tanto comigo?
- Sim… Desculpa…
- Ouve, eu também quero ter o nosso filho, mas agora, agora já não moramos juntos. A minha decisão foi afastar-me um tempo, para sempre, não sei, a minha decisão foi tentar viver de outra maneira, se soubesse que estavas grávida nunca o teria fei--
- Não queria que ficasses apenas porque estou grávida, Tom.
- Eu amo-te, Camie, e ficaria por isso e porque íamos ter um filho nosso. Agora percebo que talvez a decisão que tomei não seja a melhor para ti, mas eu não vou voltar atrás. Não quero voltar para casa e continuar a discutir contigo. Vamos ter um filho, quero que ele cresça saudável, vou estar aqui para te apoiar no que for preciso, mas vou viver a minha vida. Lembras-te quando te pedi um tempo para realmente perceber o que estava a sentir antes de tomarmos a decisão de morarmos juntos? Acho que preciso outra vez, pois, como eu agora sei que não tomei a decisão mais acertada para ti ao ir-me embora, talvez não tenhamos tomado a melhor decisão de morarmos juntos. Mas será a última vez, prometo. Se realmente eu perceber que és a mulher da minha vida para sempre voltarei para ti e para o nosso filho, se assim quiseres, se perceber que afinal este sentimento que tenho vivido é errado, eu irei, Camie, esperando não te magoar.
- Eu aceito isso.
- Ainda bem que compreendes…
- Tom, e--
Sinto a sua mão vir de encontro à minha cara, metendo uma medeixa de cabelo para trás. Um gesto repetido tantas e tantas vezes e que finalmente voltara a sentir, um gesto que parecia normal noutros dias, mas que agora eu percebia ser o gesto do amor, um gesto que eu talvez nunca mais teria. Talvez, ou provavelmente, não era difícil encontrar alguém melhor que eu, apesar do Tom ter negado inúmeras vezes.
- Não digas nada. Eu também te amo e amar-te-ei sempre, aconteça o que acontecer.
- Se te apaixonares por alguém isso já não acontecerá.
- Acontecerá si, foste a primeira mulher que me ensinou a amar, nunca vou esquecer disso.
- Prometes?
- Sim. Agora tenho de ir embora.
Acompanhei-te até à entrada e vi a tua mão forte a abrir a maçaneta da porta, todos os teus pequenos gestos me iriam sentir falta. Metes-te de joelhos enquanto passas a mão na minha barriga depositando nesta um leve beijo.
- Eu amo-vos.